Seu dinheiro está indo pelo ralo?
Se você tem um salário decente, não tem grandes gastos fixos, e ainda assim parece que no final do mês o dinheiro não sobra, esse texto é para você. Porque, sim, você tem um ralo financeiro.
Em 2019, antes mesmo de eu começar esse trabalho mais focado em psicologia e dinheiro, estava num café com uma amiga e ela me disse: "Ano passado, eu sei que trabalhei e recebi cerca de 200k de renda. Mas quando o ano acabou, olhei para minha conta e não tinha nada. Eu sou solteira e não tenho uma vida de luxos, não tenho dinheiro investido, não construí patrimônio, não comprei jóias e ainda pedi dinheiro emprestado a meus pais em algum momento. Para onde foi meu dinheiro?"
Eu mesma já me perguntei, tantas vezes, porque minha vida financeira parecia tão mais frágil que a de meus pais na mesma idade que eu tinha. Hoje, minha situação é bem diferente, mas até 2011, eu tinha uma dívida de um ano inteiro de salário, não compreendia para onde meu dinheiro ia, nem enxergava os sinais que meu comportamento de compra me dava sobre o estado precário que minha saúde mental estava. Foi apenas quando comecei um processo pessoal de resgate e conexão interior que minha vida financeira pode entrar em processo de fechamento da ferida que fazia meu dinheiro escorrer sem controle.
Ralos financeiros são aqueles gastos que acabam escoando o dinheiro por um buraco que não traz, para nossa vida, florescimento e nutrição. Eles apenas escoam o dinheiro e dão um fim a ele, sem que tenhamos chance de decidir diferente. Esses ralos tem origem emocional, nunca racional.
Todos temos um ralo financeiro pessoal. Quer descobrir o seu? Faça esse exercício: pegue seu extrato bancário ou fatura de cartão de crédito e marque com um marca-texto qualquer todos os gastos que se foram feitos nessas condições: estão fora do seu planejamento ("depois vejo como pago"), foram feitos por impulso ("só se vive uma vez!"), foram feitos para compensar algo ("meu dia foi péssimo... eu mereço!"), e qualquer compra que tenha sido feita fora de uma necessidade real. (ps.: seu cérebro vai te proteger da dor de se conscientizar dessa informação racionalizando cada compra... não caia nessa.)
Com esses dados em mãos, você vai ver duas informações: 1 - quantos % do seu salário foi pro ralo só em compras que poderiam ter sido evitadas se você conhecesse melhor o seu universo interior; 2 - os itens mais comprados vão te dar um mapa sobre o que está acontecendo no seu inconsciente. Esse mapa é importante para o processo de mudança.
Nesse tempo que atendo como psicóloga financeira, percebi ralos financeiros são soluções capengas para questões interiores que tem duas origens diferentes: uma causal e outra finalista.
A primeira origem fala sobre como o ralo financeiro vem para compensar, corrigir ou me afastar de algo que aconteceu na minha vida, principalmente na infância. Ele tem uma causa, um porquê na minha própria história de vida e tem a função de me fazer "nunca mais passar por isso de novo". Por exemplo: se uma pessoa frequentou uma escola e se sentiu invisível e excluída por usar roupas e sapatos usados, enquanto os amigos usavam roupas de grife, ela pode desenvolver um comportamento de compras na vida adulta que represente o "nunca mais passarei por isso de novo". Atendi uma pessoa que tinha entre 15 e 20 calças jeans e nunca tinha percebido que seu desejo por esse item vinha da adolescência, período em que todos os amigos se vestiam assim (alô, calça bag dos anos 90!), mas os pais dela não tinham dinheiro para comprar e ela se sentia excluída. Ela cresceu dizendo "quando tiver dinheiro, vou comprar a calça que eu quiser!", e assim ela comprava compulsivamente esse item.
Mas também existe o ralo financeiro que tem uma finalidade, um sentido. Como se ele estivesse apontando para algo na nossa vida, mostrando um desejo de mudança, mas que está sendo "comprado" ao invés de "vivido". Ou seja, são gastos que são como desejos da alma, que ao invés de serem realizados a partir de um olhar interior e vivenciados, tentamos realizá-lo comprando objetos vazios de sentido.
Quando por dentro surge um desejo de transformação, muitas vezes confundimos esses desejos com necessidade de compras. “Queria poder ser alguém diferente…”, “queria encontrar um novo caminho pra mim…”, “queria que as pessoas me vissem de um jeito mais positivo…”, são todos desejos internos, da alma, que convidam uma pessoa à se transformar, se modificar e alterar a rota de vida. Mas temos pouco ou quase nenhum contato com nosso mundo interior e como realizar os desejos da Alma por transformação. Por isso, buscamos no lugar concreto essa realização: nas compras.
Então, um sapato novo sem necessidade poderia, na verdade, ser um desejo imenso de uma nova forma de caminhar. Trocar de carro todos os anos sem necessidade poderia ser um desejo de se mover diferente pela vida. Comprar livros que não serão lidos poderia, na verdade, ser um desejo de conhecer mais a si mesma e sua sabedoria interna.
Ou seja, aquilo que não realizamos internamente vamos projetar na vida financeira. Quando menos percebermos, gastamos dinheiro com partes dessa vida que nada tem a ver conosco e continuamos desejosos de mais e mais, insatisfeitos com a mudança que foi apenas superficial, externa e vazia de sentido.
Eu sei, a pergunta que me fazem é: “como eu mudo isso?” Conhecendo a si mesmo. Invertendo o olhar de fora para dentro, de preferência acompanhada por um terapeuta que pode ir te guiando para resgatar partes de si e, assim, seu dinheiro não ter que ficar, literalmente, pagando a conta.
O lugar de dinheiro também é na terapia.
Aliás, eu tenho um grupo terapêutico chamado Dona do Meu Dinheiro que tem ajudado mulheres a olharem para suas vidas financeiras a partir de dentro, com encontros quinzenais por 2 meses num grupo fechado de até 10 pessoas. Se quiser saber mais sobre, me manda uma mensagem que te explico melhor sobre ele.
Um beijo,
Sara.
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